quinta-feira, 24 de abril de 2014

PoliValente

Trago hoje um atestado de óbito. Morreu a menina doce, frágil como uma rosa na neve, insegura e sem esperança.


Ela estava lá totalmente vulnerável, completamente maleável... até que se abriu uma porta e surgiu uma mão, uma não, duas mãos quentes, grandes e firmes a convidando segurar nestas mãos e voar com elas em um mundo perfeito, assim como um pássaro, em um mundo perfeito de amor e liberdade, pois ninguém podia cobrir o céu aberto.

- Que besteira, quem você pensa que é para me levar do meu conforto para um mundo totalmente desconhecido? 

Esqueceu-se da história e voltou para seu sofá ultrapassado, inseguro e perdido. A porta abriu de novo, as mesmas mãos vieram “não pense que me esqueci de você”.

- Ora, se voltou é porque realmente pode ser que eu esteja perdendo algo. 

Ela deu uma volta, e não achou ruim. Ali era o ponto em que ela se abria para um mundo totalmente livre, colorido e experimental. Conheceu sentimentos e sensações que talvez estivessem sempre ali adormecidas, mas que não haviam encontrado espaço para se libertarem em um meio tão careta, em um lar tão conservador, no meio de tanta gente igual.
Começaram a surgir ideias naturais para colorir ainda mais a vida, como se realmente tudo isso já estivesse dentro dela o tempo todo.

Com o passar do tempo, somente evolução, somente experiências, somente aprendizado.
Primeiro, em alguns flashes, aprendeu a descobrir a mulher que existia nela, em toda sua sensualidade e poder, e ficou apaixonada, e abandonava as roupas dentro do seu casulo para poder se admirar um pouco mais. Gostou do que viu, quis melhorar, correu atrás, melhorou e se apaixonou ainda mais, se desejava. Aquela paixão trouxe confiança, trouxe segurança, que transbordou para o universo e, independente de qualquer roupa ou penteado que estivesse usando, alguém notava sua felicidade exalante.  Quando você se apaixona por si mesmo, com fogo, com fervor, esse amor é capaz de fazer transformações incríveis em você.

Aprendeu em seguida a fortalecer-se, passar por situações inusitadas e não abalar-se por conta de tanto amor-próprio dentro de si. Se algo aconteceu, criou a sensação de que era porque precisava acontecer, e abriu seu coração para absorver somente coisas positivas de tudo que acontecesse. Aprendeu por onde pisar, a parar de torturar-se. Se algo não lhe faz bem, por que fazer? Se algo vai lhe deixar feliz, porque não fazer? De repente viu que tanta coisa que sempre a vida toda, simplesmente não fazia sentido nenhum. 

Aprendeu a perdoar e a desprender-se de antigos rancores. Aprendeu a olhar sempre pra frente. 

E depois de toda essa descoberta interna, resolveu mostrar-se para o mundo, e o mundo  enxergou-a, começaram a conversar. Ela admirou o mundo e o mundo a admirava, enfim era admirada.

Provou sensações novas, sensações duplas, triplas, quádruplas, desconhecidas, inesperadas. Todas deliciosas. E se saiu bem e feliz em todas elas. Não tenho mais dúvida nenhuma que aquilo tudo já estava dentro dela por todo esse tempo de fato.

Queria mesmo era mostrar esse novo mundo para todo mundo que gostava, contar o quanto é legal, o quanto lhe faz bem. Aos poucos está perdendo o receio, a vergonha e o juízo.

E talvez hoje, tenha descoberto o amor. Descobriu que o amor está em todas as partes, que compartilhar amor não é somente através de uma relação carnal, que pode ser perto, longe ou até mesmo com gente que você nem conheça. Sempre haverá alguém para te dar um pouco de amor quando você precisar. 

Agora surge uma certidão de nascimento, de uma mulher, mulher mesmo, feliz. Claro que problemas e alguma insegurança ou outra sempre aparecem, mas aprendeu a controlar com seu próprio amor. Pula, canta, roda, no meio da rua. Faz o que quiser, com quem quiser, quando quiser, do jeito que quiser. É leve e capaz de tudo.

Pobre da pessoa que não se descobre, que não se mostra ao mundo, quem não se ama, não se deseja. Quem não se abre para descobrir todas as possibilidades deste mundo. Se não for capaz ou valente para isso, que pena... Mas só não seja mais pobre de prejulgar, de rotular, de interferir, de encher o saco. Se cada pessoa nesse mundo for feliz à sua maneira, sem julgar a felicidade do outro. O mundo perfeito seria possível para todos.