terça-feira, 28 de abril de 2015

Meus brincos dourados.

Meu saquinho dourado de brincos tem muitas histórias para contar.
Há brincos ganhados em protesto à minha antiga comodidade em usar as argolas de sempre; há brincos comprados em um ataque de futilidade e um salário cheio na conta, há brincos ganhados em solidariedade aos meus brincos que enroscam nos meus cabelos e caem. 

No último domingo, resolvi ir à uma festa e finalmente voltar meus olhos para mim, roupa nova, cabelo trabalhosamente feito, uma maquiagem diferente... A ultima coisa que me faltava escolher foi a cereja do bolo... Os brincos, que já estavam enchendo-se de pó no meu saquinho dourado abandonado.
Peguei os maiores e mais brilhantes e os coloquei, o peso das más recordações envolvidas naquele par fizeram minhas orelhas pesarem. Então peguei um pequeno par de brincos dourados em forma de leão e os coloquei. O amor com o que eles foram me dados me envolveu e senti ali um abraço. 
Os brincos que você me deu aproveitaram a festa, dançaram, perderam a timidez e conversaram com desconhecidos, parecia até que você estava comigo aproveitando a noite. Eles eram tão pequenos e delicados que continuaram na minha orelha por mais dois dias sem que eu percebesse. Dormi e acordei e eles permaneceram sem me incomodar. 
Hoje, terça-feira, fui para a minha rotina de atender mesas e servir cafés com os pequenos leões dourados nas orelhas. No primeiro "olá" que disparei para uma colega, recebi em resposta um elogio aos meus brincos. Mais alguns minutos e até mesmo a mais fria das garotas se derreteu aos encantos dos meus brincos "que bonitos! São leões?". 
Algumas horas e inclusive duas senhoras me pararam para elogiar, logo após eu ter servido seus cappuchinos e suas tortas "que lindos brincos! São de ouro?".
Ouvi com atenção a cada uma dessas pessoas e respondi-lhes com carinho e muito orgulho: Obrigada, são presentes da minha melhor amiga!" 
Respirei fundo, fui ao banheiro e me vi no espelho com o par de leões nas orelhas, segurei os olhos mas não consegui evitar que algumas lágrimas rolassem. Respirei novamente e tudo já estava bem, pois de um jeito ou de outro, era você que estava comigo. 

De todas as saudades que tenho, a saudade de você é uma das que mais me aperta o coração.
Em todos os momentos de fraqueza, minhas lembranças das suas palavras sempre prontas a me ajudar e do seu abraço que certamente viria logo em seguida, me acalmam e me acalentam.
Em todos os momentos de alegria, penso na felicidade que seria ter você rindo ao meu lado e compartilhando desses momentos.

Aqui do outro lado do oceano, me falta alguém que me entenda com o coração, me falta alguém que possa me acompanhar em qualquer lugar que seja e que vai se divertir comigo de uma forma única, me falta alguém que incrivelmente sente quando eu preciso de ajuda e vem me oferecer um abraço sem nem saber o motivo da minha tristeza, você simplesmente sempre sabe. Mas sei que tenho um pedaço de ti aqui, e sempre que eu colocar meu par de leões dourados, você estará comigo e tudo vai ficar bem.





quarta-feira, 8 de abril de 2015

Nossa Música

Ontem tocou a nossa música no rádio.
Lembro que você abaixava o som do carro pra me ouvir cantar, e eu tinha tanto, tanto medo de que aquela música se tornasse nossa trilha, pois ela falava do casal que se dava tão bem e só passava a brigar o tempo todo para depois pegarem-se pensando um no outro se ainda/já estavam solteiros (novamente).

"We used to look at the stars and confess our dreams, hold each other 'till the morning light. We used to laugh, now we only fight... Baby are you lonesome now?"

E foi exatamente o que aconteceu. A perfeição intensa dos nossos encontros veio seguida de brigas intensas e intermináveis por ações não pensadas, brigas que tomaram-nos meses enquanto eu achava que morreria e choraria por 40 noites, assim como em todos os meus outros casos de amor.
Talvez eu tenha chorado intensamente por 30, mas não morri como pensara.

Depois me peguei investigando, querendo saber a quantas andava seu novo amor, e você me confessou fazer o mesmo sobre a minha vida.

A história da música acabou, então resolvi acabar de vez com a nossa também. Fechei o livro e parti sem deixar aviso prévio ou nenhum outro rastro para mim e para você, como pede a canção. 

Ontem tocou a nossa música no rádio, e ao invés de chorar ou fechar a cara, dei um gole na minha cerveja, fiquei feliz por ouvir minha banda favorita e comentei com os amigos na sala o quanto o vocalista da banda é lindo, exatamente como eu costumava fazer nos velhos tempos antes de te conhecer.

Parecia que duraria para sempre, e não durou seis meses completos, parecia que eu sofreria por anos, mas passado um mês, tudo já estava bem. Parecia que eu nunca te esqueceria, mas hoje eu tenho tantas outras coisas para pensar que eu não me sobra tempo para de lembrar de ti.

Agora que me vejo livre, estou vivendo e ansiosa pela próxima história que terei para contar, pela próxima música que irei cantar. 
Afinal de contas, ain't we are just runaways?