quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Oceano.

O Oceano Atlântico: 106.400.000km² de saudade, um quinto de superfície da Terra de ansiedade.

Os barcos levam meses para cruzar essa imensidão azul, os aviões levam em média 12 horas... meu amor leva milésimos de segundo e faz várias viagens durante o dia.
Dizem que o Oceano tem o formato de um S, o mesmo S que escreve "saudade", o mesmo S que escreve "Será?", o mesmo S que escreve um angustiado "socorro".



Nesses nove meses dos doze que se completarão dentro de alguns dias, o Oceano me trouxe, em pequenas garrafas, várias respostas, me trouxe inúmeras perguntas que me assombram a mente até hoje, mas também trocamos diversas mensagens de amor.

Quando os pensamentos se cruzam, quando coincidentemente pensamos na mesma coisa durante dias tão diferentes na Europa e no Brasil, quando a conversa é tão boa, que parece que estamos na mesma mesa do bar, quando os corações estão perto, batendo no mesmo ritmo (às vezes até dói), quando as pessoas que amamos invadem nossos sonhos, o Oceano fica do tamanho de uma pocinha d'água, me dando a ilusão de que se eu der um pulo mais larguinho, chego do outro lado. Às vezes, parece tão simples, uma sensação de que se eu pegar o ônibus 46A, chego em São Paulo.
Mas se você aí demora, quando vai embora, quando por algum motivo me ignora, o oceano... se multiplica por quatro, o Atlântico se junta com o Índico, acabando com meu mundo Pacífico e transformando meu coração num Ártico.

Dias desses, andei pelas ruas chorando minha angústia, passei pela beira do rio, e pela primeira vez eu talvez tenha entendido por que aquelas pessoas param seus dias para sentar-se à beira do Liffey para fazer absolutamente nada a não ser observar o curso da água. Talvez, elas estejam como eu, querendo enviar alguma mensagem à alguém, que está em alguma ponta deste Oceano esperando por respostas. E ali eu parei também.



Está chegando a última semana da casa dos 20, a partir de então, minha contagem passa a ser na casa do "décimo", dezenove semanas, dezoito semanas, dezessete...

Muitos exploradores cruzaram o Oceano em busca de descobertas, eu cruzei para descobrir a mim mesma, e agora quero cruzar de volta para descobrir como será a vida com um "novo eu".




quarta-feira, 12 de agosto de 2015

F*deu

Cheguei no ponto em que: f*deu.
Devo ter caído no poço, ficado tonta com meus sentimentos.
Eu só sei que sinto, e que é forte, porque me dói o peito.
Às vezes eu me esforço para parar de sentir, e sinto mais.
Mesmo sabendo que não devia, eu fui atrás, e ao invés de encontrar as respostas, mais perdida ainda eu fiquei.
Levei as mãos a cabeça e ali fiquei um tempo, sem entender, sem saber no que pensar. Meu cérebro ficou vazio por um instante, mas cheio de coisas ao mesmo tempo.
Escrevi um rascunho de e-mail, tanto que eu queria dizer. Mas sem saber se devia dizer, não é hora, não é certo, não é o momento.
Mas eu queria explodir, queria que o mundo soubesse, queria embarcar, só não queria ter esse medo de me arrepender depois.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Gentileza gera...?

Eu nunca fui uma pessoa de ter "inimigos", mesmo que houvessem pessoas com quem eu não me desse tão bem, nunca usei isto como um motivo para tratar pessoas mal... mas não é todo mundo que tem a cabeça assim...

Dizem que gentileza gera gentileza, dizem que gera gente lesa. Às vezes sim, às vezes não.
Largando tudo pra trás (na teoria), e vindo para uma terra onde boa parte dos imigrantes estão sozinhos e dependem de um pouco de gentileza, eu aprendi algumas lições importantes sobre essa questão.



Gentileza gera gentileza, quando se tem um coração bom. Pra mim, gentileza é uma grande corrente que precisa ser levada a frente. Trabalhando como garçonete pra viver em Dublin, eu consegui perceber o quanto aquelas pequenas gorjetas fazem diferença na minha vida, é um pouco hoje, um pouco amanhã, um pouco depois e no fim da sua semana aquilo já garante umas duas semanas de supermercado. Um gesto de gentileza que veio em retribuição a sua própria atitude de tratar uma pessoa gentilmente, como, a princípio, qualquer pessoa merece ser tratada.
Depois disso, resolvi passar as boas coisas que aconteciam comigo para frente, e desde então, em qualquer lugar que eu paro pra comer, deixo um troco ao garçom, que junto com outros trocos, no fim do mês pode virar uma conta de luz paga.
Conheci um rapaz aqui que não dava gorjetas em restaurantes, mas sempre deixava o troco com o taxista, por o pai dele exercer a mesma profissão. Desta forma, não quero instaurar que todos sejamos a nova Madre Teresa, mas creio que se cada um, de alguma forma, passasse a tratar a vida de forma mais gentil, cada um do seu jeito, várias correntes de gentileza podem correr o mundo. Um dia, aquele garçom do restaurante que comi semana passada, pode vir tomar um cappuccino na minha cafeteria.

Mas gentileza também pode gerar ingratidão... nesta terra onde é preciso a aprender a correr atrás de tudo sozinho, mas onde qualquer ajuda é bem vinda, o sucesso pode subir à cabeça, e a gentileza de hoje pode se tornar amnésia de amanhã, as pessoas podem tratar com indiferença, quem um dia lhes estendeu a mão...
E quando essa pessoa cair de novo e precisar da sua mão novamente... você vai estender? Talvez essa seja uma lição que eu esteja começando a finalmente aprender. Meu coração molenga abre os dois braços na hora, mas vivendo sozinha aqui, fiz um novo amigo: a minha razão, e ela tem me ajudado a entender que a gente não deve sempre estender o braço antes de garantir que temos força o suficiente para nós mesmos primeiro, e que às vezes é preciso passar um tempo no chão para entender a diferença que aquele braço um dia fez na nossa vida e podermos aceitar uma nova ajuda com mais gratidão. Todo mundo vai precisar um dia.

Continuo a não negar minha ajuda a ninguém, pois eu sei que o mundo dá voltas, mas se você um dia me deixou afogar, eu não te darei mais meu salva-vidas antes que eu esteja a salva num barco seguro.

"Fácil pra você dizer, que seu coração nunca foi partido.
Que seu orgulho nunca foi roubado.
Ainda não, ainda não...
Um dia destes, eu aposto que seu coração será partido,
Eu aposto que seu orgulho será roubado.
Eu aposto, 
Um dia destes...
Você esquecerá de ter esperança e aprenderá a temer."


domingo, 2 de agosto de 2015

Comprei.

Comprei.
Comprei, não pensei e comprei.
Depois eu penso...
O cartão estava ali e comprei.
Depois olho o saldo, depois faço as contas.
Comprei como se já fosse semana que vem.
Comprei e já me deu vontade de fazer as malas, de juntar dinheiro, de fazer o roteiro.
Puta merda, comprei!
Agora ao mesmo tempo em que os dias parecem passar como uma contagem regressiva, eles nascem me trazendo uma necessidade urgente de aproveitar ao máximo!
Comprei sem conversar com ninguém, sem saber se é a coisa certa ou não.
Mas afinal, sabia eu se vir para Dublin era a coisa certa? Quantas vezes não me questionei antes de chegar??

Depois... O que será que tem no depois?
Como eu estarei no depois?
Será que eu mudarei daqui há alguns meses quando o depois chegar?
Será que continuarei querendo as mesmas coisas no meu desembarque do que quero agora?

Vocês podem não estar entendendo... Comprei minha passagem de volta para o Brasil. Sem volta. Um trecho apenas. A vida ainda tentou me dar um "peraí"... me obrigando a escolher uma data de retorno à Dublin, mas lá no cantinho, eu finalmente achei, bem pequenininha a opção "One Way".

Minha experiência aqui já é transformadora, meu Deus, tantas coisas que mudaram, tantas que se reafirmaram, que loucura. Mas, eu preciso voltar para certas coisas.
Quando resolvi fazer essa viagem, pensei que não tinha nada que me amarrasse no Brasil. Mas aqui, descobri que tenho mais amarras do que imaginava... ainda bem que são amarras de amor (eu espero).
Quando saí do Brasil, deixei braços estendidos sentindo a falta que eu faria. Os braços continuam abertos, aguardando meu abraço e me puxando pra perto deles a cada dia que passa.

Eu comprei, são quase 2 das manhã, noite de Lua Cheia no portal de Leão. Não deve ser em vão. Aqui nesse coração acelerado (que deve estar batendo no mesmo ritmo do Heavy Metal que estou ouvindo), eu sinto... tem uma vida maravilhosa me esperando lá. Eu sei! Não existe outra possibilidade.
Foi pensando nisso que eu... comprei!



"We are coming home,
we are coming home,
Light a fire
We are coming home.
We'll write it down
We'll write it all down.

And we dance along the finest line
Between the chance of time of our lives
And wishing you were done
Oh no, gotta run."