Dizem que gentileza gera gentileza, dizem que gera gente lesa. Às vezes sim, às vezes não.
Largando tudo pra trás (na teoria), e vindo para uma terra onde boa parte dos imigrantes estão sozinhos e dependem de um pouco de gentileza, eu aprendi algumas lições importantes sobre essa questão.
Gentileza gera gentileza, quando se tem um coração bom. Pra mim, gentileza é uma grande corrente que precisa ser levada a frente. Trabalhando como garçonete pra viver em Dublin, eu consegui perceber o quanto aquelas pequenas gorjetas fazem diferença na minha vida, é um pouco hoje, um pouco amanhã, um pouco depois e no fim da sua semana aquilo já garante umas duas semanas de supermercado. Um gesto de gentileza que veio em retribuição a sua própria atitude de tratar uma pessoa gentilmente, como, a princípio, qualquer pessoa merece ser tratada.
Depois disso, resolvi passar as boas coisas que aconteciam comigo para frente, e desde então, em qualquer lugar que eu paro pra comer, deixo um troco ao garçom, que junto com outros trocos, no fim do mês pode virar uma conta de luz paga.
Conheci um rapaz aqui que não dava gorjetas em restaurantes, mas sempre deixava o troco com o taxista, por o pai dele exercer a mesma profissão. Desta forma, não quero instaurar que todos sejamos a nova Madre Teresa, mas creio que se cada um, de alguma forma, passasse a tratar a vida de forma mais gentil, cada um do seu jeito, várias correntes de gentileza podem correr o mundo. Um dia, aquele garçom do restaurante que comi semana passada, pode vir tomar um cappuccino na minha cafeteria.
Mas gentileza também pode gerar ingratidão... nesta terra onde é preciso a aprender a correr atrás de tudo sozinho, mas onde qualquer ajuda é bem vinda, o sucesso pode subir à cabeça, e a gentileza de hoje pode se tornar amnésia de amanhã, as pessoas podem tratar com indiferença, quem um dia lhes estendeu a mão...
E quando essa pessoa cair de novo e precisar da sua mão novamente... você vai estender? Talvez essa seja uma lição que eu esteja começando a finalmente aprender. Meu coração molenga abre os dois braços na hora, mas vivendo sozinha aqui, fiz um novo amigo: a minha razão, e ela tem me ajudado a entender que a gente não deve sempre estender o braço antes de garantir que temos força o suficiente para nós mesmos primeiro, e que às vezes é preciso passar um tempo no chão para entender a diferença que aquele braço um dia fez na nossa vida e podermos aceitar uma nova ajuda com mais gratidão. Todo mundo vai precisar um dia.
Continuo a não negar minha ajuda a ninguém, pois eu sei que o mundo dá voltas, mas se você um dia me deixou afogar, eu não te darei mais meu salva-vidas antes que eu esteja a salva num barco seguro.
"Fácil pra você dizer, que seu coração nunca foi partido.
Que seu orgulho nunca foi roubado.
Ainda não, ainda não...
Um dia destes, eu aposto que seu coração será partido,
Eu aposto que seu orgulho será roubado.
Eu aposto,
Um dia destes...
Você esquecerá de ter esperança e aprenderá a temer."
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