terça-feira, 18 de novembro de 2014

Largando o vício.

Venho tentado largar o vício, que tão mal me faz.
Apertei as rolhas e escondi as garrafas daquele vinho que aquecia meu corpo por dentro, me saciava e e me dava uma sensação de felicidade.
No começo eu neguei, dei uma bicadinha, tomei uma taça, depois mais outra, mais outra, passei a carregar a garrafa na bolsa e me vi então mergulhada em um oceano de vinho tinto.
Ao passar do tempo, o vinho que era suave se secou. Não me refiro ao sabor requintado de um vinho seco, me refiro à secura da falta de sabor, o vinho passeava pela minha boca sem gosto, sem cor.
Tentei adoçar, chacoalhar a garrafa, por de volta no barril, pensei em mil formas, e o vinho ficava cada vez mais seco, um gosto cada vez mais amargo como lágrimas de rancor que descem.
Então engoli à seco e fechei as garrafas. Escondi, fiz o possível para deixar fora de vista.
E funcionou muito bem! Tive algumas recaídas naturais, mas minha reabilitação durou pouco tempo e já estava de volta!
Mas as vezes, os ventos trazem o aroma da uva doce, o cheiro me estremece por um instante, mas só me traz tristeza, não consigo mais lembrar do sabor suave que me fazia flutuar, só daquele gosto amargo de ferrugem da bebida que me secou a boca. Mas confesso que às vezes sinto saudades, sinto vontade de tentar uma taça nova, algum jeito de sentir aquele sabor de novo. Mas não. Me embebedei, a bebedeira me cegou e a cegueira fez eu me perder.
Por favor, afasta de mim este cálice de vinho tinto de sangue, me traga de volta a água que é pura, inodora, incolor, insípida e mais que tudo... indolor.


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