Depois que tudo aconteceu e troquei de endereço, resolvi fugir para sempre.
Excluí de mim os registros seus, já que tua nova vida me torturaria. Excluí de ti os registros meus para que não tivesses notícias minhas; não soubesse do meu começo difícil, das noites em que chorei achando que tudo daria errado, nem das pequenas conquistas que o tempo trouxe, como os pratos novos que aprendi a fazer. Você ficaria muito feliz de saber o que me aconteceu na ultima semana, mas melhor não...
Não te amo mais, mas... vesti minha capa de arrogância para cada vez que você viesse atrás de notícias, e do outro lado da linha eu me divertia por ter superado mais este dia.
Não te amo mais, mas... por dentro me doía a cada mensagem recebida, e eu de tudo me esquecia para elaborar uma resposta estrategicamente enquanto daqui eu tentava imaginar o que você sentia ou de que recordava enquanto me escrevia... E quando você demorava a vir, eu até sentia falta.
Não te amo mais, mas... confesso que já me esforcei para mostrar-te a parte feliz da minha nova vida, mas este é um hábito moderno que nossa geração aprendeu a ter.
Não te amo mais, mas... comprei ingressos para um show, e passei alguns dias tentando decorar a letra de uma canção na qual o vocalista cantava com orgulho que já não amava mais seu ex amor, só para que eu pudesse cantar com mais fervor na platéia, e talvez "acidentalmente" filmar um trecho do espetáculo estrategicamente durante essa canção. Só parei de perder meu tempo com isso quando me dei conta que talvez o autor da canção ainda amasse seu ex-amor para escrevê-la, por que não escrever uma canção de amor a sua nova parceira ao invés de um discurso de superioridade e arrogância ao amor que supostamente acabou?
Não te amo mais, mas... já vi nas vitrines vários presentes com a sua cara, e lamentei por não ter motivos para comprá-los (ao menos economizei uma boa grana!).
Não te amo mais, mas... ontem, talvez não por acaso, encontrei jogado um pacotinho de lenços de papel ainda pela metade; coloquei em meu bolso para deixar em algum canto e ele acabou indo parar na minha casa, então o guardei na bolsa, que comprei durante uma viagem que não quis te contar que fiz. Nunca usei lenços de papel, mas vai que... Espaço eles não iam ocupar mesmo...
Hoje na escola, estamos tendo uma sessão de cinema na classe, o filme parece bem interessante, mas em um minuto de tédio, folheei escondida as páginas do livro que estou batalhando para ler, o narrador descrevia um casal que pareciam uma só pessoa com quatro braços e duas cabeças de tão próximos que estavam um do outro enquanto assistiam um programa de culinária e tomavam chá no sofá da sala, eu confesso que pensei em você... e não vi a minha imagem ao teu lado no sofá, vi outra pessoa..., mil lembranças rondaram minha cabeça e sem que eu percebesse, lágrimas quentes e silenciosas correram pelo meu rosto. Olhei no fundo da bolsa e lá estava o meio pacote de lenços de papel, agora eles estão aqui silenciando meu choro enquanto sento aqui no fundo da sala, ignorando o filme devido a minha necessidade imediata de por essa melancolia pra fora, lamentando minha recaída.
Não te amo mais, mas... escrevi tudo isso no meu caderno a tinta preta, sem uma rasura ou pausa, pois as palavras fluíram naturalmente do meu coração.
Não te amo mais, mas... mesmo sabendo que um dia ou outro você vai acabar lendo esse texto, resolvi me expor do mesmo jeito. Por mais que eu tente, não levo o menor jeito para joguinhos de amor e mistério. E talvez você esteja lendo justamente por não me amar mais, mas...
Não te amo mais, mas... talvez eu ame sim, eu só não amo te amar como amava antes.
Quando precisamos nos afirmar que não amamos mais alguém, é a prova de que ainda amamos. Quando não amamos, simplesmente esquecemos.
Não nos amamos mais, mas... Também não nos deixamos ir.
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